domingo, 20 de fevereiro de 2011

“A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22)

Adriano Cézar de Oliveira,
Licenciando em Filosofia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA)
em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Estamos vivendo num mundo voltado quase que totalmente aos valores que passam, mergulhados numa história humana, com suas belezas, mas limitada e passageira. Com isso, sentimos fortemente a necessidade de Profetas Verdadeiros que nos anunciem os valores permanentes da vida, mesmo que eles pareçam difíceis de serem entendidos e vividos.
Por essa razão, mais uma vez a Igreja nos propõe refletir sobre esse tema, tão antigo e tão novo, que é “Fraternidade e Vida no Planeta”, com lema “A criação geme em dores de parto”.
Faz-se de singular importância considerarmos o mundo como nossa própria casa, onde nos aconchegamos, com  todos os outros humanos e as coisas, criaturas de Deus como nós. É em nós, nos outros e nas coisas que fazemos encontro com Deus - “razão principal de sua dignidade e vocação própria de todo ser humano” (São João da Cruz) - e, portanto, a criação é o nosso espaço de ser de Deus.
O refrão do hino da Campanha da Fraternidade 2011, baseado em Gêneses I, nos diz: “Olha, meu povo, este planeta terra: Das criaturas todas, a mais linda!, Eu plasmei com todo amor materno, Para ser berço de aconchego e vida” (Gn 1).
A criação nada mais é que uma prova concreta do amor de Deus por nós. Ele a fez com amor materno para que fosse berço e aconchego de vida. Mas então, por que existe destruição (o mal), do gênero humano, quanto das obras de Deus?
Para responder a essa pergunta, tomemos Santo Agostinho. Somos criados por um Deus que é Sumo Bem e n’Ele não existe o mal. Mas, ainda, de onde vem à destruição (o mal)?
Podemos por essa prerrogativa, afirmar que o mal e a destruição advêm da natureza humana, que tem em si presente o bem, vindo do Criador, e o mal, fruto da liberdade. Mas como ainda nos diz, Santo Agostinho “o problema em si não é fazer o mal, mas gostar de fazer o mal”.
Por isso, libertemo-nos do mal e refaçamos nossas vidas no amor e na justiça. Partilhando o que temos. “Tendes a Eucaristia, o que quereis mais?” (São Pedro Julião Eymard).
Nossa mãe terra é criatura viva, também respira, se alimenta e sofre. É de respeito que ela mais precisa; sem nosso cuidado, ela agoniza e morre. Mais profundamente, precisamos, ver nesta terra, nossos irmãos. São tantos que a fome mata e a miséria humilha.
Rezando esta campanha precisamos, criar uma nova aurora, fazer com que o sol da liberdade surja no coração das pessoas e indicar: “Com Maria, ide depressa para uma nova terra” (Maristas). Sonhar um mundo mais humano, sem tanto lucro empobrecido e mais partilha, de pão e de vida!
Para isso, podemos rezar com toda a Igreja, que unida em sinal profético, entoa com júbilo, louvores e preces ao Deus Altíssimo com a oração da Campanha da Fraternidade deste ano: “Senhor Deus, nosso Pai e Criador. A beleza do universo revela a vossa grandeza, A sabedoria e o amor com que fizestes todas as coisas, E o eterno amor que tendes por todos nós./ Pecadores que somos, não respeitamos a vossa obra, E o que era para ser garantia da vida está se tornando ameaça. A beleza está sendo mudada em devastação, E a morte mostra a sua presença no nosso planeta./ Que nesta quaresma nos convertamos E vejamos que a criação geme em dores de parto, Para que possa renascer segundo o vosso plano de amor, Por meio da nossa mudança de mentalidade e de atitudes./ E, assim, como Maria, que meditava a vossa Palavra e a fazia vida, Também nós, movidos pelos princípios do Evangelho, Possamos celebrar na Páscoa do vosso Filho, nosso Senhor, ressurgimento do vosso projeto para todo o mundo. Amém”.
Devemos ser fraternos com a vida no planeta e ajudar a criação a não mais gemer “em dores de parto”, pois devemos renascer com ela no amor, pelo amor e para o amor. Pois “no fim da vida seremos julgados pelo amor que um dia plantamos” (São João da Cruz).
Para finalizar, cito um dominicano medieval, Mestre Eckhart (1260-1328), que apesar de ter vivido e postulado sua teoria na Idade Média, ela se apresenta totalmente atual, nessa esfera de busca da totalidade.
Num poema indiano que ilustra do universo eckartiano, podemos refletir a importância da consciência da totalidade da criação, considerando-a totalidade de Deus:

“Deus dorme na pedra
Respira na planta
Sonha no animal
E desperta no homem”
(Poema Indiano)

Com ele, somos convidados a agradecer, louvar e não nos afastarmos do Deus-Amor-Criador, que nos recria e nos refaz a cada amanhecer. Para isso, ajude-nos Deus.

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