segunda-feira, 21 de março de 2011

Origens de Cipotânea: por quê e para quê?
Geraldo Trindade
Bacharel em Filosofia, estudante de teologia no Seminário de Mariana,
mantém o blog: http://pensarparalelo.blogspot.com
Contato: pensarparalelo@gmail.com  


Cuidar da história e do registro dela pode ser considerado desnecessário por muitas pessoas, mas o que seria de cada um de nós se não soubéssemos de nossa história, de quem somos filhos, quem são nossos parentes, como foi nossa infância, juventude?
Antiga Matriz de Cipotânea
            O desejo de conhecer a origem não está só no plano individual, mas vai além; a ponto de queremos descobrir a origem de humanidade, da terra, do cosmos.  Com essa sede de perscrutar a história nós estudamos e criamos um laço afetivo com a história do Brasil, do nosso estado e também com a da nossa cidade - a terra que nos acolheu em seus braços. Terra, que por mais problemas tenha sempre será por nós chamada: “minha terra”, “minha cidade”. O uso do possessivo ressalta que não é distante, mas está ligado afetivamente à nossa vida. Isso nos fascina porque nos garante identidade, que é o que nos torna singular, distinto.
            Assim, não poderia ser diferente com nós, cipotaneanos, que temos imenso carinho por nossa cidade: Cipotânea ou São Caetano do Xopotó, ou somente Xopotó, Sipotaua. Não é por menos, ela completa neste ano de 2011 seus 300 anos de povoação. Daí darmos uma pincelada nesta origem.
            No início da colonização das terras brasileiras houve uma grande busca dos bandeirantes por índios para a mão de obra tanto nas próprias bandeiras quanto nas regiões auríferas. Além do mais esse comércio de vidas e mão de obras serem muito rentáveis. Dessa forma, as populações indígenas foram acuados, e aos poucos se distanciando do litoral e embrenhando para o interior da terra brasilis. Os carijós chegaram à região de Queluz (hoje, Conselheiro Lafaiete) e ao Vale do Rio Pomba. Porém, estes, foram atacados e acabaram por migrar para os vales do Guarapiranga e do Sipotaua (cipó amarelo).
            A caça aos índios se espalhava em vários grupos que tinham o seu ponto de encontro em um lugar que passou a ser denominado por eles de Espera (hoje, Rio Espera). Um desses grupos era chefiado pelo alferes português Francisco Soares Maciel e companheiros vindos de Lamim pelo lado esquerdo do Rio Espera. Chegaram à confluência com o rio Xopotó no dia dedicado à São Caetano, dia 7 de agosto de 1711. Neste mesmo dia foi celebrada a missa pelo Padre João Martins Cabrita. No mesmo local da missa foi erguida uma capela e estava fundado o arraial de São Caetano.
            O mesmo padre benzeu, 45 anos depois, outra capela no dia 19 de março de 1756, dia consagrado a São José, patrono universal da Igreja católica. Em 1829 o povo erigiu um novo templo que viria a ser demolido 125 anos depois. A partir de 1954 a cidade contou com uma nova e esplêndida matriz, pois já no ano de 1857 ela foi elevada a paróquia pelo bispo de Mariana Dom Antônio Ferreira Viçoso, que está com seu processo de beatificação acelerado na Santa Sé (em outro artigo falaremos deste bispo e suas benesses para todo o Brasil).
Atual Matriz de Cipotânea
            Essa nota histórica não traz grandes novidades, mas conforta o coração em saber que essas são datas que nos remetem a origem do chão que pisamos, das paragens que nos acolhem, paisagem que admiramos, do ambiente onde estamos situados. Estes dados nos remetem também aos sonhos de homens e mulheres que desde aquele 7 de agosto de 1711 sonham, lutam, buscam e esperam dias melhores nestas terras; onde eu também, hoje, sonho, luto, busco e espero dias melhores.
            BONS SONHOS CIPOTANEANOS, QUE ELES SE REALIZEM NESTA TERRA QUE NOS VIU NASCER!



segunda-feira, 14 de março de 2011

Família, formadora de Igreja viva
Geraldo Trindade

Em nossa caminhada eclesial é preciso refletir sobre o verdadeiro sentido da fé batismal, para que se viva plenamente a mensagem de Jesus Cristo e “ser Igreja no mundo de hoje”.
Vive-se hoje um tempo de mudanças velozes que leva à relativização da vida, do conhecimento como definitivo, de instabilidades em relação à ética e aos valores, de incertezas quando ao futuro da humanidade e do planeta. Soma-se a isso a globalização, o avanço desenfreado da técnica, da virtualidade e descobertas científicas.  Neste contexto complexo e plural situa a Igreja com seus fieis que se encontram geralmente perdidos. Eles buscam, muitas vezes até sem saber que o fazem, um encontro com Deus que seja capaz de lhes preencher o coração.
Cada vez mais se observa que muitos adultos não tiveram um processo de iniciação à vida cristã e à inserção na comunidade. Muitas vezes são portadores de uma fé difusa, com o senso religioso aguçado, mas pouco evangelizados. Outra constatação é que enquanto o batismo respondia muito às necessidades da cristandade, na modernidade ele já não supre mais as necessidades. Hoje a fé deixou de ser doméstica, isto é, ela é cada vez menos transmitida pela família. Daí a necessidade de passar de um batismo de tradição para um batismo de opção de fé e por isso “a família é chamada a introduzir os filhos no caminho da iniciação cristã”. (DAp, 302)
            A Igreja tem como finalidade a evangelização, ou seja, ela é anúncio da Boa Nova à toda a humanidade, a fim de transformá-la a partir de dentro. Tudo isso ela realiza sob o mandato de Jesus: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. (Mt 28,19) 
            “Todo aquele que recebeu o batismo faz parte da família de Deus, é membro do Corpo de Cristo, e templo do Espírito Santo. Isso é um privilégio, uma honra. ‘Não forma vocês que me escolheram, mas eu que os escolhi.’ (Jo 15, 16). O que você pode fazer para corresponder a esse gesto de carinho é procurar ter ‘os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo.’ (Fl 2,5). Quem tem verdadeira paixão pelo Pai e pelo Reino, demonstra uma grande compaixão pelo pequenos e sofredores, luta pela justiça, dá a vida para que todos tenham vida. Este é seu PLANO DE SALVAÇÃO.
            Para nós participar da Igreja e assumir algum serviço na comunidade não é um dever, mas prazer. O que nos motiva é o encantamento por um Deus que, muito antes, se encantou por nós; é o desejo de que o PLANO do Pai seja conhecido e se realize me nossa vida e nos ambientes onde Deus nos colocou.” (Projeto Arquidiocesano de Evangelização, nº 4-5 – Arquidiocese de Mariana)
            Em meio a essa nova realidade e estrutura que descortina a vida eclesial deve cada vez mais envolver toda a família, pois para a Igreja ela exerce um papel essencial na evangelização, na catequese, na inserção na comunidade e na transformação do mundo. Toda e qualquer união de um homem e uma mulher não pode se ausentar de ser responsável de assumir e educar os filhos em uma real formação cristã e religiosa.
            A Igreja sempre conjugou a família cristã ao itinerário de iniciação à vida de fé. “Pelo sacramento do Matrimônio os pais recebem a graça e a responsabilidade de serem os primeiros catequistas de seus filhos. Mesmo diante dos desafios atuais da família, ela é chamada a dar os primeiros passos na educação da fé de seus filhos. Espera-se que seja no cotidiano do lar, na harmonia, e aconchego, mas também nos limites e fracassos, que os filhos experimentem a alegria da proximidade de Deus através dos pais. A experiência cristã positiva, vivida no ambiente familiar, é uma marca decisiva para  a vida do cristão.”( CNBB. Diretório nacional de catequese, nº 238) Os pais são símbolos que revelam Deus, sua ternura, amor e paternidade. Eles se tornaram responsáveis de ensinarem a catequese aos filhos, mas precisam antes passarem por uma experiência e amadurecimento na fé.
            Os pais cristãos são os primeiros responsáveis pela vida de fé dos filhos, como também na esperança e no amor. Em meio às crises e dificuldades próprias pelas quais passam a família é necessário uma nova postura da Igreja.
            O processo de iniciação deve ser integrado à vida da família, mas requer, acima de tudo, que os membros dela dêem testemunho de vida, união, cooperação, participação e alimentação, criando um ambiente de fé, esperança e amor. A família sempre foi um lugar privilegiado para que se transmita a fé. “Na família cristã, em seu esforço de ser Igreja doméstica, somos chamados à primeira experiência de comunhão na fé, no amor e no serviço ao próximo.” (CNBB. Catequese renovada: orientações e conteúdo.)
Neste itinerário é importante que se dedique mais tempo às famílias, ajudando-as a crescer nas relações de amizade e solidariedade. É preciso que a família seja bem amparada e orientada nas comunidades eclesiais. Deve-se criar cada vez mais a atitude de cultivo da vida cristã em família, mediante a oração diária com os filhos, a leitura da Palavra de Deus e o bom exemplo de uma vida reta. O papa João Paulo II em sua Exortação Apostólica Catechesi Tradendae afirmou que “a educação para a fé, feita pelos pais — a começar desde a mais tenra idade das crianças— já se realiza quando os membros de determinada família se ajudam uns aos outros a crescer na fé, graças ao próprio testemunho de vida cristã muitas vezes silencioso, mas perseverante, no desenrolar da vida de todos os dias, vivida segundo o Evangelho”.  O trabalho evangelizador pode e precisa ser feito em família, só dessa forma constituirá cristão iniciados na fé, conscientes da graça que receberam e ávidos em cultivá-la em sua prática cotidiana.