segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Breves reflexões para o nosso tempo pós-moderno


Geraldo Trindade



A realidade que se descortina e é vivida por nós é fruto de sementes lançadas anteriormente. No caso do Brasil, uma cultura colonial, escravocrata, marcada pela exploração da natureza e por  práticas corruptas sempre houve uma cultura de manipulação e desrespeito. Há o triste traço marcante do cotidiano brasileiro: crianças sendo mortas, corrupção, balas perdidas, pessoas mendigando, milhões em sonegação... Viver está esquisito? Muitos estão se portando acima do bem e do mal como se fossem donos do mundo.
Dinheiro, poder, beleza, nada disso desabsolutiza a finitude da vida. A ciência nunca vai inventar um elixir que ressuscite o corpo morto. A busca desenfreada pelo dinheiro se revela em atitudes corruptas, antiéticas e de esperteza. Estabelecem-se paralelos entre eu e o outro, em uma crise comparativa do valor pecuniário e posição social. Desejar o que é do outro tornou-se mania, que destila veneno na alma.
A dita inveja, de tão cruel e perigosa aplaude as injustiças em detrimento da justiça, de valorização daqueles que, mesmo com caráter duvidoso chegam aos altos postos.
A pactuação com o jogo sujo, de certa forma vai matando a esperança dos brasileiros. Vive-se à espera de um futuro em meio à deslealdade e valores supérfluos. Faz tempo que a realidade imita os enredos novelísticos, que invadem as casas e impõem condutas, pensamentos e valores nem sempre éticos modificando os mais puros desejos e sentimentos. Cada vez mais, a sociedade vai se tornando apaixonada pelo virtual, banal e frívolo.
Aqueles que pautam suas vidas pela virtualidade dos meios de comunicação, não assimilaram que desapontamentos e sofrimentos fazem parte de suas vidas. Imitam de tal forma a ficção, que estão em constante atitude de revanche e vingança quando se sentem desfavorecidos e ameaçados. Cultua-se o rancor entre os adultos e entre as crianças. A autodefesa é conceito de valor repassado às crianças, confundindo agressividade com instinto de autopreservação.
Muitos sonham com o amor, com a amizade, com a família e com o afeto, mas o moderníssimo mundo é frio, congelante e distante. Nada é mais cruel do que a convivência desleal e marcada pela desconfiança. Como é bom relaxar e desarmar o coração! Amar aqueles que merecem o amor; amar sem esperar recompensas! Tal atitude perdeu sua presença ativa porque a tendência é relativizar as relações e absolutizar a compra e a venda. Quer-se projetar nas relações o que ocorre na lei de mercado.
 As relações intersubjetivas exigem, fundamentalmente, autenticidade. Nesse processo, as manipulações e falsidades não têm lugar. A relação sadia é elixir para alcançar a alegria verdadeira. Os pais já não têm tempo de educar seus filhos e cobiçam os bens de seus vizinhos e conhecidos. Esquecem-se de que quanto mais pautam suas vidas pelo consumo mais se tornam inseguros. Acreditam ser mais felizes não com o que têm, mas sonham com o que é do outro. Olvidam que o sentido da vida está onde menos se espera. Conquistar, usufruir, tornam-se verbos usados diariamente, gramaticalmente corretos ou não.
Vive-se a era do útil, do apolítico, do apático, do neutro. Nessa rotina do “tô nem aí” ou “pouco me importa”, o amor nasce velho, pois o “ficar” e o “pegar” o tornou retrógrado. A amizade verdadeira é desacreditada e a ternura tornou-se banal. É preciso que se busque o belo na vida, resgatá-o, por exemplo, na sabedoria, na música, na arte, na literatura; ou seja, como expressão essencial da vida. Basicamente é repensar a vida e procurar vê-la sob um novo olhar.