sexta-feira, 22 de março de 2013

Aborto, investida contra o valor da vida


Geraldo Trindade





O Brasil recebeu recentemente a notícia (21 de março) de que o Conselho Federal de Medicina (CFM) encaminhará ao Senado a sugestão de descriminalização de aborto até o 3º mês. Essa possibilidade de interrupção da gravidez (aborto) já é prevista pelo Código Penal para os casos de risco à saúde da gestante e quando a gravidez é fruto de um estupro. O CFM quer que esta prerrogativa de não penalidade se estenda a um âmbito somente individual: à vontade da mulher. Isto é, a vida que ela traz no ventre é parte do seu corpo e não constitui uma vida à parte, não carregada de possibilidades e potencialidades; mas esse feto é parte do corpo da mulher por isso ela pode dispor tranquilamente e como bem desejar.
Pergunto, se podemos dispor, manipular e anular a vida dessa forma? Esclarecedor também é o questionamento de Phil Bosmans, sacerdote e escritor belga. “Se uma pessoa já não está segura no seio da sua mãe, onde estará, então, ela ainda segura neste mundo?”
O respeito à vida foi e é sempre defendido pela Igreja Católica desde o nascimento até o seu fim natural. É o grande zelo que se deve ter para não deixar com que as interferências humanas, tecnológicas e até mesmo da dita saúde pública cheguem a ferir a vida, colocando-a em risco, selecionando os que vivem e os que morrem.
O aborto não pode ser visto como fim ou como meio para o bem estar da mulher sem ao menos considerar a vida que está ali no ventre. Se não se pode dispor livremente e de qualquer maneira da vida de uma pessoa que está em ato diante de nós, também não podemos dispor daquela pessoa que já está em potência, sendo gerada.
“Deus, com efeito, que é o Senhor da vida, confiou aos homens o nobre encargo de preservar a vida para ser exercido de maneira condigna do homem. Por isso a vida deve ser protegida com o máximo cuidado desde a concepção.” (Gaudim et Spes, 51)
O tema da interrupção da gravidez (aborto) retoma a pauta de discussão por uma via diferente da do governo, pois a presidente Dilma Rousseff firmou compromisso durante a sua campanha eleitoral com os grupos religiosos de não adotar nenhuma medida para incentivar novas regras durante seu governo. Tanto que isso é verdade que a secretária de políticas para mulheres, Eleonora Menicucci, favorável ao aborto; manifestou que não importa a sua opinião pessoal, mas as opiniões e opções do governo.
O grande embate que conselhos, órgãos e governo que tendem a defender a legalização do aborto parte é da verdade de que o estado é laico. A Igreja Católica nunca negou essa verdade e este direito; porém isso não permite que se passe como trator sobre a consciência moral da população; mesmo que essa consciência esteja embasada a partir de fundamentos religiosos, da fé – tão sagrada ao ser humano como é a vida.
A vida é preciosa e deve ser cuidada porque ela não é produto humano, mas é fruto do amor de Deus que tudo cria. Essa certeza não pode ser aniquilada e colocada em mesa de negociação e de voto.

quarta-feira, 13 de março de 2013

O novo papa, Francisco, tem muito a nos ensinar!



Geraldo Trindade




Sob o olhar e expectativa de todo o mundo, católicos e não católicos, aguardaram ansiosos o início e o fim do conclave. Quem se tornaria o líder e pastor da milenar Igreja Católica? Quem sucederia o apóstolo Pedro na cátedra romana, após o carismático João Paulo II e o intelectual Bento XVI? Quem guiaria a barca da Igreja em meio aos reveses e exigências do século 21 e da pós-modernidade?
            Não poucas foram as especulações em relação ao futuro pontífice: conservador, liberal, de centro, com experiência pastoral, forte acento intelectual, boa relação com o mundo, mais ligado à cúria  romana ou disposto a provocar mudanças...

            Porém, tudo isso se torna secundário, pois o papa tem como grande missão confirmar na fé; ou seja, ser o luminar e o porto seguro da fé, da Tradição e do Magistério à luz da Palavra de Deus; que guia os que creem rumo a Jesus Cristo.
            Inesperadamente o Habemum Papam ecoou da sacada de São Pedro ao mundo, dando ao conhecimento que o colégio dos cardeais confiou as sandálias e o anel do pescador a um homem, Cardeal Jorge Mário Bergoglio. Suas primeiras palavras dirigidas ao mundo demonstra que este apostolado petrino supera em muito a pequenez humana, que seu sujeita à vontade de Deus e nela se confia. Disse que os cardeais foram buscar um papa no fim do mundo e pediu orações para o papa emérito Bento XVI e por ele, que assume o governo da diocese de Roma e do mundo. “Agora começamos este caminho juntos, um caminho da caridade das igrejas, de fraternidade, amor e confiança entre nós”, disse o novo papa.

Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina, Jorge Mario Bergoglio formou-se engenheiro químico, mas escolheu posteriormente o sacerdócio, entrando para o seminário em Villa Devoto. Em março de 1958, ingressou no noviciado da Companhia de Jesus (jesuítas). Em 1963, ele estudou humanidades no Chile, retornando posteriormente a Buenos Aires. Entre 1964 de 1965, Bergoglio foi professor de literatura e psicologia no Colégio Imaculada Conceição de Santa Fé e, em 1966, ensinou as mesmas matérias em um colégio de Buenos Aires. De 1967 a 1970, estudou teologia. Em 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote.
     O novo papa passa a assumir agora o nome de Francisco. O nome remete a diversas figuras que tem um lugar especial na vida da Igreja Católica. Um dos nomes mais proeminentes é de São Francisco, o pobre de Assis, que reformou a Igreja Católica a partir do serviço aos pobres e o amor a Jesus Cristo por meio da humildade e do resgate da beleza do Evangelho. São Francisco de Sales, homem de espiritualidade e de uma vida voltada para Cristo com simplicidade, sem buscar coisas grandes, com paciência e sem heroísmos. Outro santo importante é São Francisco Xavier, pioneiro e co-fundador dos jesuítas, mesma congregação do novo papa. Este santo se destacou em sua atividade missionária na Índia e Japão.

     O até antão Cardeal Bergoglio esteve no Brasil em 2007 para a Conferência do episcopado latino-americano. Aqui, unidos com seus irmãos bispos, trabalhou para a confeccção do Documento de Aparecida, que convida todos os católicos a tornarem-se discípulos-missionários. Por isso a eleição de Francisco I revigora a Igreja na sua missão de “fazer discípulos entre todas as nações”.  Sua Santidade traz para o ministério petrino a experiência evangelizadora da Igreja latino-americana e caribenha.
Com toda a Igreja e o mundo entregamos e confiamos a Deus a vida deste grande colaborador da obra de Cristo no mundo.

domingo, 10 de março de 2013

Jovem bem orientado não é manipulado!


Geraldo Trindade



            A Campanha da Fraternidade neste ano coloca a sociedade, o governo e a Igreja em sinal vermelho. O que estas três esferas têm oferecido aos jovens?
            Os jovens passam por uma crise de sentido, de certezas. O que tem sido feito para orientá-los?
            Cada vez mais se estabelece relações entre as pessoas a partir do interesse, da indiferença e do utilitarismo. O que tem sido feito para educar as novas gerações de gratuidade?
            A publicidade e o mercado criam realidades ilusórias, necessidades que provocam o descontrole do consumismo em crianças, jovens e adultos. O que se tem feito para criar a consciência de um consumo sadio e consciente?
            O avanço tecnológico vai garantido maior acesso a internet, aos meios de comunicação e redes sociais. O que se tem dialogado com as crianças, adolescentes e jovens sobre o uso correto desses meios?
            Infelizmente, aos poucos vai se perdendo os parâmetros do que é bom e mal, correto e errado.
            Muitos jovens perdem o sentido da vida, estão ausentes a dimensão do futuro e da esperança. Assustadoramente, cada vez mais jovens se perdem no álcool, nas drogas e no extermínio de sua própria vida. São eles também, os jovens, vítimas de assassinatos.
            O limite, o “não” parece inexistir, pois é tomado como limitação da liberdade e por isso mesmo corre-se o risco com a formação de gerações que desconhecem  limites e o respeito aos outros.
            Não basta a indicação dos riscos pelos quais enfrentam a juventude. Jovem bem orientado não é manipulado, pois é capaz de assumir suas decisões com determinação. É capaz de se colocar diante do mundo, de suas solicitações com uma nova postura: não se deixar levar somente pelo que está na moda e na “boca da galera”. Sabe utilizar as redes sociais com discernimento e limite. Vê na família o porto seguro, o lugar do aconchego, do carinho e da formação de valores.
            O jovem sabe que sua vida está interligada ao destino das outras pessoas e ao futuro da humanidade. Sabe que a fé em Deus e a sua participação na Igreja são tesouros preciosos, do qual não se pode abrir mão.
            “A Igreja olha para os jovens com esperança”. (Bento XVI). Além de serem esperança, os jovens são heróis dos tempos pós-modernos; capazes de superarem as injustiças e corrupção, de serem fermentos em meio aos idealismos, de defenderem o bem comum, de promoverem o diálogo e o encontro, de serem autênticos e participativos, de preservarem e cultivarem a fé, o amor a Deus e ao próximo... Cada dia mais os jovens são convocados a serem protagonistas de uma sociedade mais justa, fraterna, inspirada no Evangelho: a CIVILIZAÇÃO DO AMOR. Fica o conselho de um pai espiritual aos jovens: “Permiti que o mistério de Cristo ilumine toda a vossa pessoa! Então, podereis levar aos vários ambientes aquela novidade que pode mudar relacionamentos, as instituições e as estruturas, para edificar um mundo mais justo e solidário, animado pela busca do bem comum. Não cedais a lógicas individualistas e egoístas! Que vos conforte o testemunho de muitos jovens que alcançaram a meta da santidade.” (Bento XVI)

sexta-feira, 1 de março de 2013

Bento XVI: o papa e servo na vinha do Senhor


Geraldo Trindade 




            Agora com a Sé de Roma vacante, a Igreja Católica experimenta, após anos, a sensação de ter um papa emérito enquanto se espera um conclave para a eleição de Sumo Pontíficie. Para meu espanto a grande mídia cobriu com avidez esta troca na suprema hierarquia da Igreja Católica. Primeiro, pode ter sido por interesse, por garantia de ibope; mas também não descarto que, por mais que se tente apagar, o papa representar valores e posturas morais porque ele não age, não se pronuncia e não se porta ao sabor das ondas, mas a partir, invariavelmente, do Evangelho. O título que é concedido ao papa de vigário de Cristo simboliza muito bem que na terra ele faz a ponte com o sagrado, com o divino. Viver e pautar-se pelo Evangelho é um dos grandes convites que um papa faz a toda a humanidade e isso sempre chamará a atenção do mundo.
            Bento XVI esteve à frente da Igreja foi um período de drásticas mudanças no mundo e no cristianismo. Ele se esforçou para tornar a fé mais clara e inteligível para que assim fosse abraçada com certeza e convicção vital. Lutou para que os esforços burocráticos, pastorais e evangelizadores da Igreja não perdessem o seu foco – Cristo. Sempre convidou todos os católicos a terem Jesus como centro da vida cristã. Quando se perde o sentido referencial, que é Cristo, a Igreja corre o risco de tornar-se tudo, menos o corpo de Cristo, que traduz no mundo os valores pregados e vividos pelo Verbo encarnado.
            No dia 19 de abril de 2005, o cardeal Ratzinger aparecia na sacada de São Pedro como novo papa sob o nome de Bento XVI e dirigindo à multidão reunida disse: “Depois do grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes.” Colocou-se humildemente como servo do Senhor. Muitas vezes o servo é dispensável à gosto do Senhor. Agora, surpreende-nos com a sua despedida serena, de fato, como um servo que fez o que deveria fazer e que não fica a aguardar a recompensa de seu Senhor. Na noite do dia 28 de fevereiro se despede do mais alto posto da Igreja Católica com as singelas palavras, porém não menos profundas de que “sou simplesmente um peregrino que inicia a última etapa de sua peregrinação nesta terra. Mas gostaria ainda com o meu coração, com o meu amor, com a minha oração, com a minha reflexão, com todas as minhas forças interiores, de trabalhar em prol do bem comum e do bem da Igreja e da humanidade. E me sinto muito apoiado pela simpatia de vocês. Sigamos adiante com o Senhor para o bem da Igreja e do mundo.”
            O cardeal Ratzinger viveu o pontificado não aprisionado a moldes ou pressão, mas soube interpretá-lo e dá-lo uma nova configuração. Se ele não tinha o trejeito com o público como seu antecessor, mas teve e tem a capacidade de refletir com profundidade e originalidade, ao mesmo tempo, entende que o seu papel como papa não se restringe a grupos seletos, mas como ele mesmo disse em sua última audiência: “O Papa nunca está sozinho, pude experimentá-lo agora mais uma vez e duma maneira tão grande que toca o coração. O Papa pertence a todos, e muitíssimas pessoas se sentem estreitamente unidas a ele.”
            Agora, o papa emérito descansa, pois completara suas atividades às 20 horas  do dia 28 de fevereiro, mesma hora em que encerrava seu expediente de trabalho como um servo que se coloca a disposição de seu amo; assim, mais uma vez Bento XVI dá o exemplo de levar a bom termo a sua missão, pois a Igreja não é dos homens, mas de Cristo. Resta a cada batizado abraçar Cristo e por consequência a missão com o intuito de deixar com que a fé entranhe até as profundezas da existência humana.
“Deus guia a sua Igreja; sempre a sustenta mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Nunca percamos esta visão de fé, que é a única visão verdadeira do caminho da Igreja e do mundo.” (Bento XVI, papa emérito)