domingo, 27 de julho de 2014

Cristãos perseguidos, mas não vencidos!


Geraldo Trindade
  
A fé cristã sofre perseguições! Nada mais atual que a frase de São Tertuliano de que “o sangue dos mártires se torna sementes para novos cristãos”. Professar a fé cristã é ser hostilizado em muitas esferas da nossa sociedade; de modo escancarado ou velado, o comportamento se transforma se se declara crente, temente a Deus e discípulo do Mestre, que é Jesus Cristo.
            A fé guardada por homens, mulheres e crianças a ponto de darem suas vidas por causa do Evangelho é um grito que incomoda porque aponta para além dos modismos e das fugacidades da vida pós-moderna, onde o que importa são as aparências e a simples sensação de estar bem e ter uma “vida legal”. A fé preservada em meio às perseguições nos aponta para infinitude, para uma razão na vida, um querer de felicidade que só Cristo pode nos dar.
            Os cristãos no Iraque sofrem perseguição pelo estado islâmico de Mosul, é o que afirma o jornal francês Le Figaro. Os cristãos são obrigados a deixar sua região ou a pagarem altos impostos, têm suas casas marcadas com o N de Nazareno e assim sujeitos ao massacre e transformados em cidadãos de segunda categoria. No fundo, o estado islâmico quer obrigá-los a se converterem ou a serem mortos. Os cristãos no Iraque antes da invasão americana eram de 1 milhão, hoje são 400.000.
            Na Ucrânia, após a invasão russa muitos católicos tem seu futuro incerto, pois a igreja poderá ser banida do território. Padres são raptados e alguns desaparecem sem nenhuma explicação. Alguns fiéis chegam a ser espancados por oficiais russos e têm suas propriedades confiscadas. É a lógica do medo para que abandonem sua fé!
            Na China o Partido Comunista Chinês silencia a Igreja Católica que é obrigada a viver na clandestinidade. São em média 12 a 15 milhões de católicos em um país de 1,4 bilhão de habitantes. Os católicos são obrigados muitas vezes a serem membros da Associação Católica Patriótica Chinesa, que é controlada pelo governo e não está em comunhão com o papa.  Alguns bispos católicos vivem encarcerados durante décadas por não abandonar a fé.
Na Mongólia, um sacerdote e uma religiosa foram mortos por cuidarem de crianças e idosos pobres. Na Síria, os conflitos têm gerado intolerância religiosa contra os cristãos num ambiente em que 90% da população é muçulmana. De acordo com estimativas divulgadas pelo Associated Press, cerca de 1800 cristãos foram mortos na Nigéria em ataques terroristas planejados por radicais islâmicos desde 2007. Na Coréia do Norte, 50 a 70 mil cristãos sofrem nos campos de concentração em trabalhos forçados. Na Somália se um ex-muçulmano é descoberto logo é condenado imediatamente à morte. No Afeganistão os cristãos são considerados inimigos do estado. Nestes e em muitos outros lugares seguir a Cristo é estar correndo risco de morrer e de ser perseguido.
No Brasil os católicos também acabam passando algumas situações sofridas, tendo suas igrejas invadidas, seus objetos de cultos ridicularizados e imagens depredadas. Isso aconteceu no Rio de Janeiro (RJ), Montes Claros (MG), Sacramento (MG) Igarapava (SP), Erechim (RS)...
O papa Francisco afirmou que há mais cristãos perseguidos atualmente que nos primeiros tempos da Igreja. Existem lugares em que não se pode ter uma Bíblia, ensinar o catecismo ou mesmo levar um Crucifixo. A cada cinco minutos um cristão é morto, segundo algumas fontes. Além do mais a perseguição não é somente física, o martírio de sangue. Outras formas de perseguição se espalham e marcam profundamente a vida das pessoas. Hoje há o martírio da ridicularização no trabalho, na universidade nos ambientes sociais...
Estes exemplos demonstram como ainda há corações, estruturas sociais e regimes políticos fechados ao Evangelho. É preciso permanecermos vigilantes para que a profissão da fé cristã não se torne um crime sujeito a retaliações. A nossa vida deve-nos falar sobretudo de Cristo e de Cristo crucificado e ressuscitado como centro da história e da nossa vida. A cruz de Cristo ocupa sempre um lugar central na vida da Igreja e tem que ocupar também em nossa vida pessoal. Na história da Igreja não faltará jamais paixão e perseguição, mas a partir delas e pelo testemunho de guardar e dar testemunho dela muitos crerão. Se aceitamos a cruz ela se converte em benção. “Somos atribulados por todos os lados, mas não esmagados; postos em extrema dificuldade, mas não vencidos pelos impasses; perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados. Incessantemente e por toda a parte trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também manifestada em nosso corpo” (2 Cor 4, 8-10).

terça-feira, 8 de julho de 2014

Brasil na copa: vencedor ou derrotado?

Geraldo Trindade

  
As vitórias ressaltam nossas virtudes, potencialidades e capacidades. Mas, as derrotas constroem o caráter. É preciso aprender a se doar por inteiro, dar o que pode de melhor; mas saber lidar com o êxito e as frustrações. Se se tem um verdadeiro vitorioso não é porque ganha sempre, mas porque sabe lidar e seguir adiante em meio ao fracasso.
            O Brasil que sedia a Copa iniciou o mundial de forma tímida, com pequena empolgação dos brasileiros, que prefeririam investimentos em infra-estruturas do país a custear os gastos exorbitantes de um evento desta magnitude. Apesar disso, o jogo mais popular alcançou seu objetivo: uniu o país em torno de uma bola. Chegou mesmo a “endeusar” os convocados, que passaram a compor a seleção. No fundo do coração de cada brasileiro estava a esperança tímida, mas presente, de que o Brasil poderia acrescentar a sexta estrela.
            A sede pela taça e o orgulho brasileiro de que se é imbatível no futebol é presente em nosso país. A Alemanha paralisou os passos “tímidos” rumo ao hexa. Como lidar com essa derrota quando o país sedia a copa?
            Alguns aspectos devemos reconhecer: as derrotas existem e é preciso estar preparados para passar por elas. A diferença entre quem vence e quem perde é a capacidade de ter a dignidade de saber perder. A derrota neste momento pode e deve ser uma alavanca poderosa para buscar ser sempre o melhor, de doar-se por inteiro. A dignidade da derrota está em compreender e admirar o adversário. Os sentimentos ficam misturados: a raiva, a frustração, a impotência...
            Dois  textos bíblicos me chamam atenção: o pastor que tem cem ovelhas e perde uma, deixa as demais e vai ao encontro da que se perdeu (Lc 15, 4-6) e a da mulher que tinha dez moedas e perdeu uma. Procura, encontra e se alegra ( Lc 15, 8-9).
Em termos existenciais perguntamos: o que foi de mais importante perdemos em nossa vida? Todos já perdemos algo ou em alguma situação sentimo-nos vencidos. A questão não é o que perdemos em si, mas como lidamos com essas perdas. Temos possibilidade de percorrer dois caminhos: lamentar, culpar os outros e sofrer o resto da vida ou encarar o problema, tratar a questão com serenidade e aprender com ele.
            Tanto no campo quanto na vida as perdas são inevitáveis e não se pode ganhar sempre. As perdas acompanham a nossa existência: morte, separações... Aprender a perder é um exercício para aprender a ganhar. Como pessoas de fé não se pode perder o prazer de viver, as oportunidades, a dignidade, a fé e a esperança. Se preciso for é preciso ir às perdas da vida porque o que nos move  é a certeza de que somos mais que vitoriosos em Cristo. Resta-nos a pergunta: “Quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1Jo 5,5).